quarta-feira, 7 de abril de 2010

O caçador de pipas



"Estendo o meu jai-namaz improvisado, o meu tapete de oração, e me ajoelho, baixando a testa até o chão, com as lágrimas encharcando o lençol. Me inclino voltado para o Oeste. Só então lembro que faz uns quinze anos que não rezo. Esqueci as orações há muito tempo. Mas isso não tem importância. Vou dizer as poucas palavras de que ainda consigo me lembrar: La illaha il Allah, Muhammad u rasulullah. Não há outro Deus senão Allah, e Mohammad é o Seu mensageiro. Agora percebo que baba estava errado. Existe um Deus, sim, sempre existiu. Posso vê-Lo ali, nos olhos das pessoas que estão nesse corredor do desespero. Aqui é a Sua verdadeira casa; é aqui que aqueles que perderam Deus voltam a encontrá-Lo; não naquela masjid branca, com as suas lâmpadas que brilham como diamantes e os seus minaretes altíssimos.

Existe um Deus, tem que existir, e agora vou rezar, vou pedir que Ele me perdoe por não ter Lhe dado a devida importância durante todos esses anos, que me perdoe por eu ter traído, mentido e pecado impunemente, e só ter pensado em recorrer a Ele nos momentos de necessidade; pedir-Lhe que seja clemente e misericordioso como o Seu livro diz que Ele é. Inclino a cabeça para o Oeste, beijo o chão e prometo fazer zakat, prometo fazer as namaz, fazer jejum durante o Ramadan e continuar jejuando quando o Ramadan já tiver terminado. Prometo(...)Vou fazer tudo isso e, de hoje em diante, vou pensar Nele diariamente, se Ele me conceder um único pedido. As minhas mãos estão manchadas com o sangue de Hassan. Que Deus não permita que elas se manchem também com o sangue do filho dele.

Ouço uma choradeira e percebo que sou eu. (...). Sinto que todos os olhos daquele corredor estão voltados para mim, mas continuo inclinado na direção do Oeste. Rezo. Rezo para não estar sendo punido pelos meus pecados como sempre temi que viesse a acontecer."

(parte do livro o caçador de pipas)

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