quarta-feira, 24 de março de 2010

Amor reciproco


A insegurança que a incerteza da reciprocidade amorosa traz definitivamente não é o pior mal que nos aflige. Afirmo com total confiança em minhas palavras que a certeza de que a mesma não existe é muito mais dolorosa.

É como a confirmação de uma suspeita de câncer. Não obstante a cena de padecimento de quem está doente, sempre haveria a esperança de um milagre divino. Entretanto, falando de certeza, não há espaço para esperança ou milagre.

A dor está logo alí, e ela não passará.

O câncer está logo alí, e ele não passará.

O amor platônico está logo alí, e ele não passará ou será correspondido.


Lembro-me de um sonho meu que contradiz tudo o que acabo de dizer. Não sei ao certo se sonhei no meu sono mais profundo ou se estava acordada, só sei que era sonho e não correspondia a realidade.


Lá estava ele, no meio de um campo. Parecia outono, as folhas das árvores, já bastante amareladas, se desprendiam dos galhos e caiam na grama, tirando a visão plena do gramado verdinho, colorindo-o com o amarelo. Não havia mais nada lá, só ele parado e sorrindo no meio do campo. Eu o observava de longe. Não sei como fui parar naquele lugar, mas gosto de imaginar que aquele era o seu lugar secreto e que somente à mim tinha sido dada a honra de compartilha-lo com ele.

Continuei parada mesmo quando ele foi se aproximando. Parou ao meu lado e sem dizer nada, me levou para um passeio.

Chegamos em um cais e recuei assustada ao seu impulso de ir até a beira do deque de madeira velha que não dava a impressão de ser muito estável. Percebendo, ele olhou para mim sorrindo com os olhos, pegou a minha mão e me levou com cuidado até a beira.

Naquele momento, abraçada a ele na beira do deque de madeira instável, fui apresentada a uma sensação, a qual nunca havia conhecido, a de amar e ser amada pela mesma pessoa.


Acordei logo em seguida, atordoada e com o pensamento no meu suposto amor. Passei um tempo pensando na possibilidade de realmente existirem finais felizes, mas ao final de cinco dias já não recordava bem as feições do homem do campo e estava completamente convencida de que a tão linda história havia sido apenas um sonho.

Tudo continuava rotineiro. Eu, minha solidão e meu amor platônico, juntos, vivendo a vida, vendo o tempo passar.

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